O fluxo de notícias em 2025 é implacável. Em uma mesma semana, dois acontecimentos aparentemente desconexos capturaram minha atenção e, acredito, deveriam estar no radar de todo líder. O primeiro, um movimento de demissões em massa ligado ao trabalho remoto, amplamente noticiado pela imprensa. O segundo, a descoberta de um novo tipo de ciberataque capaz de aniquilar a precisão de sistemas de Inteligência Artificial.
Hardware e humanware. Silício e sentimento. O que estes dois eventos têm em comum? Ambos revelam que, no cenário atual, a confiança se tornou o alicerce fundamental sobre o qual construímos o valor de nossas empresas. E este alicerce nunca esteve tão exposto.
O Contrato de Confiança no Trabalho Remoto
O caso do Banco Itaú, que desligou cerca de mil funcionários em regime híbrido ou remoto após monitorar a atividade em seus computadores, é emblemático. A justificativa, segundo relatos, baseou-se em longos períodos de inatividade das máquinas, em alguns casos, por quatro horas ou mais, o que seria incompatível com a jornada de trabalho registrada.
Este episódio nos força a confrontar uma dura realidade do mundo corporativo pós-pandemia. De um lado, a quebra do pacto de confiança por parte de colaboradores que, talvez, não tenham compreendido que flexibilidade exige um nível ainda maior de responsabilidade e entrega. Do outro, a resposta da empresa através de um monitoramento sistemático, que utiliza variáveis como memória em uso, quantidade de cliques e abertura de abas, e de uma demissão em massa, aparentemente sem feedbacks prévios para correção de conduta.
A questão que nós, como líderes, devemos nos fazer vai além de “quem está certo ou errado”. Devemos nos perguntar: a vigilância é a solução ou um sintoma de uma cultura de confiança fragilizada? Como medimos a performance real e o valor agregado, em vez de apenas a “atividade”? O talento de alta performance, aquele que realmente move o ponteiro, prospera em ambientes de autonomia e propósito, não de desconfiança e controle. O desafio da liderança é construir essa cultura, seja no escritório ou a distância.
A Confiança Digital e a Nova Fronteira do Risco
Enquanto o debate sobre a confiança humana esquenta, uma ameaça silenciosa emerge na camada do hardware. Pesquisadores da Universidade de Toronto descobriram uma vulnerabilidade que afeta diretamente as GPUs, os motores que alimentam os sistemas de IA.
O ataque, apelidado de “Rowhammer“, explora um defeito físico das memórias para gerar interferência elétrica e corromper dados. O resultado é devastador: um modelo de IA que operava com 80% de precisão pode ter sua eficácia reduzida para praticamente zero (0,01%). Imagine o impacto disso em diagnósticos médicos, análises financeiras ou veículos autônomos. A alteração de um único bit de informação pode comprometer todo o sistema.
Esta notícia é um alerta crítico para os executivos. A cibersegurança, como destacamos em nosso White Paper sobre o futuro do talento de TI, deixou de ser uma preocupação técnica para se tornar uma prioridade existencial no conselho de administração. A confiança que depositamos em nossos sistemas de IA, nos nossos dados e na nossa infraestrutura digital é um ativo que precisa ser protegido com o mesmo rigor que protegemos nosso capital financeiro.
A Bússola da Liderança: O Guardião da Confiança
Seja gerenciando a produtividade de uma equipe distribuída ou garantindo a integridade de um algoritmo de IA, a conclusão é a mesma: a tecnologia e os modelos de trabalho são apenas ferramentas. O elemento decisivo continua sendo a liderança.
Uma liderança que inspira responsabilidade em vez de impor vigilância. Que compreende o risco tecnológico não como um jargão de TI, mas como uma variável crítica do negócio. Que constrói, nutre e protege a confiança em todas as suas formas, interpessoal e digital.
Os desafios são novos, mas os princípios são atemporais. A bússola que deve guiar os líderes continua a mesma, firmemente apontada para a integridade, a comunicação clara e a busca incansável por talentos que compartilhem desses mesmos valores.
Qual a sua perspectiva sobre o tema?